domingo, 7 de julho de 2013

MUNICÍPIO QUE MAIS VOTOU EM DILMA É FIEL, MAS TAMBÉM PROTESTA

Diário de Pernambuco


No município mais dilmista do Brasil, a fidelidade à presidente da República resiste à repercussão negativa dos protestos irradiados pelo país. É assim em Calumbi, cidade do sertão de Pernambuco que em 2010 deu 96,5% dos votos para a candidata do PT no segundo turno e ganhou fama por registrar a maior vitória proporcional contra José Serra (PSDB): recebeu 4.142 votos contra apenas 150 do tucano. “Ave-Maria!, se a eleição fosse hoje, votava nela de novo. Os prefeitos fazem besteira, não resolvem os problemas e botam a culpa nela? Isso eu não aceito”, diz a dona de casa Helena Gomes, de 57 anos. Ela defende a presidente, mas dá “o maior apoio” às manifestações, incluindo aos que saíram às ruas da pequena Calumbi com cartazes na mão. “Não mudei nada, nadinha do que eu pensava sobre Dilma”.

Naquela época, Dilma era tratada quase como uma pop star na casa de Helena; e continua sendo. O marido dela, João Pedro, explicou o motivo da fidelidade: “Dilma continuou com o Bolsa-Família para quem precisa e mandou dinheiro para obras. Se o povo come o dinheiro e não faz escola, nem ajeita os postos de saúde e não faz calçamento, é outra história”. Foi por isso que seu João Pedro engrossou a passeata que circulou pelo Centro de Calumbi no último dia 22.

Seu João e dona Helena fazem parte dos 30% de brasileiros que aprovam hoje a gestão de Dilma – percentual que vem caindo desde o início das manifestações, conforme mostrou a pesquisa mais recente, do Instituto Datafolha. A popularidade de Dilma no país era de 57% no início de junho e despencou para 30% na semana passada, somando os que consideram a gestão “boa ou ótima”.

A agricultora Zimar Lopes, de 43 anos, também faz parte do grupo dos satisfeitos: “A gente mora no fim do mundo e toda ajuda é boa. Aqui mesmo, o que divulgavam que ela ia fazer foi feito. A ponte, por exemplo”, citando a obra concluída no ano passado que facilita o acesso a comunidades rurais. “A gente economiza R$ 7 em cada viagem. Por essas coisas, eu continuo dando apoio a ela”, sentencia Zimar.

Calumbi não é só pequena, é pobre e também vive uma crise de autoridade. Tem cerca de 5,6 mil habitantes. O prefeito, Erivaldo José da Silva (PSB), está no cargo sob liminar porque teve o diploma cassado pela Justiça Eleitoral, acusado de cometer abuso de poder econômico e de uso pessoal da máquina pública. A população aguarda o julgamento dos recursos no Tribunal Regional Eleitoral do estado (TRE-PE). Parte das bandeiras do protesto calumbiense foi direcionada ao prefeito.

A mobilização de Calumbi começou a ganhar corpo entre amigos que fazem parte do grupo jovem da Igreja Católica. O protesto conseguiu arregimentar cerca de 60 pessoas. E isso só foi possível com a ajuda das redes sociais. Teve palavras de ordem, caras pintadas e cartazes escritos a mão. “Aquele que não reclama, não luta pelo futuro que quer, não pode reclamar do futuro que lhe vier”, estampava um deles. “Nós nos inspiramos nos outros protestos. Não podíamos ficar de fora”, disse Caroline Guerra, de 18 anos, moradora do município, estudante de fisioterapia na Faculdade Integrada do Sertão e uma das organizadoras do ato.
“Pode não ter sido tanta gente como nos outros lugares, mas foi muita gente considerando que aqui, por ser uma cidade pequena e com poucas fontes de renda, as pessoas têm dificuldade de se manifestar contra o poder local”, disse.

Caroline ficou satisfeita com o resultado. Para ela, foi uma forma de mostrar que “é preciso parar de reclamar e começar a procurar melhorias”. A maior parte dos que aderiram ao protesto de Calumbi foi formada por estudantes, que assim como no restante do Brasil carregavam cartolinas escritas com tinta a dedo, repetiam frases contra a corrupção e reclamavam de problemas pontuais (no caso de Calumbi, a maior bandeira foram as obras públicas inacabadas). Da mesma forma como ocorreu nas principais capitais, o assunto tomou conta da web, foi replicado por blogs locais e conseguiu apoio dos que estudam ou residem em cidades próximas.

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