Cristiana Lôbo
A harmonia que transparece nos encontros
públicos e amplamente registrada ao longo das duas campanhas eleitorais
não é mais a mesma entre a presidente Dilma Rousseff e seu padrinho
político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os dois têm
divergido claramente sobre a condução da economia e sobre a atuação dos
órgãos de investigação do governo . Discussões ásperas já aconteceram
tanto em reuniões no Palácio da Alvorada como também recentemente num
telefonema.
Os dois estão enxergando claramente o desgaste do
governo, a baixa popularidade da presidente atestada em pesquisas e o
reflexo disso no PT e na imagem do ex-presidente, que já foi o líder com
maior reconhecimento no país.
Mas eles divergem sobre qual a principal razão para isso. E daí vem o motivo para os embates entre os dois.
Para
o ex-presidente Lula, o maior problema do Brasil é o desempenho da
economia. Ele entende que o país chegou a esta situação por pura
teimosia da presidente Dilma, que, quando recebeu a sugestão, não quis
substituir o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e também manteve
no cargo por todo o primeiro mandato o secretário do Tesouro, Arno
Augustin; e, agora, insiste em deixar o comando da economia nas mãos de
Joaquim Levy.
Nas conversas com Dilma, Lula já tentou várias
vezes convencê-la a substituir Levy por Henrique Meirelles. Sob
Meirelles, acredita Lula, o governo retomaria a confiança e, com medidas
de estímulo ao crédito, o Brasil voltaria a crescer. Dilma, no entanto,
sequer admite a possibilidade de levar Meirelles para o governo. Pelo
menos, até aqui.
Para a presidente, a raiz dos problemas do
governo está nos casos de corrupção agora descobertos pela Operação Lava
Jato. É por isso que ela insiste em dizer que não há nada contra ela
nem contra o governo dela.
“Não é contra o meu governo que há denúncias, atualmente”, disse na semana passada.
“Lula
vestiu a carapuça. Era para o Cunha”, tentou interpretar um assessor.
Mas Lula se zangou, e os dois tiveram uma ácida conversa por telefone.
Nas
conversas, Dilma tenta explicar que não há como barrar investigações em
curso e que “tudo corria muito solto” nos governos passados.
“Agora,
as instituições funcionam”, teria dito a presidente, ao argumentar em
defesa de seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, alvo das
críticas de Lula.
O ambiente entre eles azedou ainda mais depois
que a Polícia Federal esteve em escritório em São Paulo onde funcionam
três empresas ligadas a Luis Cláudio Lula da Silva, o caçula de Lula e
Marisa.
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