Blog de Inaldo Sampaio
Veja, abaixo, esse texto sobre o “apartheid” educacional que há no Brasil lido ontem (26) na Câmara Federal pelo deputado Raul Henry (PMDB-PE):
I- O Brasil realizou conquistas educacionais consideráveis nos
últimos 20 anos: praticamente universalizou a oferta do ensino
fundamental, criou sistemas de avaliação e financiamento, reduziu a
defasagem idade-série e as taxas de analfabetismo e aumentou a
escolaridade média da população.
II- No entanto, no que diz respeito à qualidade da escola pública,
os números denunciam uma estagnação inaceitável e nefasta para o país.
Os dados do Saeb/Prova Brasil, do próprio Ministério da Educação são
implacáveis:
III- Para o quinto ano (antiga quarta série):
Em língua portuguesa: em 1997, 36% tinham o conhecimento adequado; em 2011: 40%.
Em matemática: em 1997, 21%; em 2011: 36%.
As notícias razoáveis ficam por aí.
IV- Para o nono ano (antiga oitava série):
Língua portuguesa: em 1997, 32%; em 2011, 27%.
Matemática: em 1997, 17%; em 2011, também 17%.
V- Para o terceiro ano do ensino médio:
Língua portuguesa: em 1997, 40%; em 2011: 27%.
Matemática: em 1997, 18%; em 2011: apenas 10%.
VI- Tudo isso diante dos nossos olhos, e, praticamente, não há
qualquer repercussão no país. Nenhuma crise no governo. Nenhuma comoção
nacional.
VII- Para reafirmar esse quadro, o mais amplo sistema de avaliação do
mundo, o Pisa, patrocinado pela OCDE, confirma esses números, com um
agravante, denuncia o nosso
apartheid educacional: na sua
última edição, realizada em 2009, com 65 países, se o Brasil fosse
representado apenas pela rede privada, ocuparia a 18ª posição. Se fosse
representado apenas pela rede pública, ficaria no 59° lugar, nesse
ranking.
VIII- Esse
apartheid é mais perverso porque suas vítimas não
percebem essa tragédia. Pesquisa do Inep, órgão do MEC, sobre a
satisfação dos pais com a escola pública mostra elevada aprovação. Eles
dão nota 8,5 às escolas dos seus filhos.
IX – Diante desse quadro desalentador, que revela estagnação e
retrocesso; diante da inexistência da imprescindível pressão social
sobre a qualidade da escola; o que fazer?
X- Quem vai garantir o direito de aprendizagem de aproximadamente 90%
das nossas crianças e jovens, que frequentam a escola pública? Esse
drama é nacional, está presente no país inteiro. Caberia, portanto, ao
governo federal coordenar a solução: estabelecer um currículo nacional
claro e objetivo, assumir responsabilidades com uma carreira docente
atraente, usar seus instrumentos normativos para requalificar a formação
dos professores e ser ágil com os sistemas de avaliação para fazer
correção de rumos.
XI – Frente à paralisia e à leniência de quem tem a obrigação de
liderar este processo, nós, no Congresso Nacional, temos que fazer nossa
parte. A favor das nossas crianças e dos nossos jovens; a favor das
futuras gerações, este parlamento tem a obrigação de aprovar uma lei de
responsabilidade educacional.
XII – Ou levamos a sério a educação publica no Brasil, ou jamais este
será um país verdadeiramente justo, democrático e desenvolvido.