Diário de Pernambuco
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Em pouco mais de 100 pequenos sítios, a paisagem agora é dominada por
crisântemos, lisiantos, gérberas, liláceas gladíolos, rosas e tangos,
entre outras espécies. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press |
Principal via de ligação do Recife ao interior de Pernambuco, a BR-232
ainda concentra um comércio peculiar no perímetro urbano de Gravatá, a
cerca de 85 quilômetros da capital pernambucana. À beira da estrada, a
venda de morangos ainda resiste. O produto, porém, é “estrangeiro” e vem
de outros estados. A razão disso é que a cultura da fruta, que já foi
símbolo da cidade, foi deixada de lado e trocada pela floricultura.
Não
menos rentável, o oásis colorido se esconde no Brejo, região da Zona
Rural do município, em várias estufas encravadas nas colinas da
localidade. Onde, até 12 anos atrás, o morango reinava absoluto. Em
pouco mais de 100 pequenos sítios, a paisagem agora é dominada por
crisântemos, lisiantos, gérberas, liláceas gladíolos, rosas e tangos,
entre outras espécies, produzidas e escoadas para o Grande Recife e o
Nordeste.
“Plantei morango, maracujá e criei gado. O que deu
retorno plantar mudas e flores. Há uns cinco anos, ninguém mais planta
morango aqui”, diz o técnico agrícola e produtor Emanuel Messias do
Nascimento, 32. No sítio de 5 hectares, Messias possui 40 estufas, sendo
14 de flores e 26 de mudas, um total de 8 mil metros quadrados de
plantio. Em 2007, ele produzia 4 mil mudas/ano. Hoje, são 90 mil e, em
2015, serão 120 mil.
O cultivo de flores em Gravatá, segundo a
associação Floragreste, com 27 produtores associados, começou nos anos
1960, mas apenas nos últimos 12 anos ganhou força e exterminou as poucas
plantações de morango que ainda resistiam. No Brejo, 70% dos
agricultores plantam flores. O restante é divido entre produtores de
abacaxi (30%) e hortaliças e leguminosas em geral (10%).
“A
sazonalidade, variedades rústicas produzidas e os custos explicam o fim
da era do morango. As tentativas em cultivar tipos refinados com mais
tecnologia e manutenção, adubos e ações contra pragas não deram certo.
Com custos mais baixos e o mesmo clima favorável, a migração para as
flores ocorreu naturalmente”, conta Lourenço Zarzar, agrônomo, produtor
de flores e presidente da Floragreste.
Segundo ele, desde 2009 o crescimento do segmento bateu os 100%, à
medida em que o mercado de eventos também aumentou. Entre as vantagens
do negócio, estão o clima ameno de Gravatá, com temperatura anual média
de 19°, e a fartura de água, já que muitas das propriedades possuem
mananciais próprios. Hoje, a floricultura emprega cerca de 3 mil
pessoas, entre vagas diretas e indiretas, atacadistas e distribuidores.
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No sítio de 6 hectares, Ailton Souza planta dez tipos de flores em 40 estufas. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press |
No sítio de 6 hectares, os irmãos Ailton e Geraldo Souza plantam dez
tipos de flores em 40 estufas. A produção é vendida para Juazeiro do
Norte (CE) e Campina Grande (PB) e rende, em média, R$ 10 mil mensais,
apesar de quase a metade ser gasta com adubos, veneno contra pragas e
frete (cerca de R$ 300 por semana para escoar a produção para a cidade).
“A rotatividade das espécies nos dá colheitas toda semana”, atesta
Ailton.
Apesar de consolidado, o setor reclama da ausência de
incentivos de agentes financeiros para otimizar e elevar a produção.
Muitos deles investem do próprio bolso, em virtude das dificuldades em
obter financiamentos através do Programa Nacional de Agricultura
Familiar (Pronaf), e dizem que os bancos alegam custos altos para a
produção, ao passo que outras culturas, como abacaxi, custam bem menos.
“Nem
10% dos produtores de flores usam linhas de crédito do Pronaf. É pouco e
falta incentivo”, revela Mário Barbosa, presidente do Sindicato dos
Produtores Rurais de Gravatá, que possui 8 mil filiados, sendo 20% deles
produtores de flores. Uma solução é recorrer a linhas de crédito
alternativas, como a oferecida pela Agência de Fomento do Estado de
Pernambuco (Agefepe).
O órgão possui opções para o setor de
flores com juros mensais entre 1,2% e 1,35% e carência de três e 24
meses, “Há operações de microcrédito com volumes de R$ 15 mil para o
pequeno produtor investir em capital de giro ou equipamentos, com o
dinheiro indo direto para a conta bancária do produtor. Inclusive já
atendemos a alguns produtores rurais de Gravatá”, ressaltou Agnaldo
Nunes, presidente da Agefepe.
Ranking e novo perfil
Mesmo
com as dificuldades, Pernambuco atualmente lidera o ranking de
produtores no Nordeste e ocupa o quinto lugar o Brasil, segundo a
Floragreste. Com mais apoio, é possível subir de patamar do mercado. De
acordo com a Secretaria de Agricultura de Pernambuco, o Instituto
Agronômico de Pernambuco (IPA) “presta assistência técnica na região”. O
órgão, porém, não possui dados atualizados do setor.
Entre os
agricultores, há o reconhecimento do apoio do IPA, mas para a maioria
deles a evolução do setor em Gravatá ocorreu na base do cooperativismo.
“A gente troca ideias de plantio com os outros produtores, para melhorar
a produção e movimentar o mercado. Um ajuda o outro”, diz Manuel
Messias.
O sabor dos morangos se foi, mas no fértil solo de
Gravatá brota agora uma outra doçura, também rentável e multicolor que
tem modificado o padrão de vida de quem escolheu plantar flores. “Hoje,
muita gente tem TV a cabo em casa, carro e moto. O matuto ganha mais”,
completa Messias.