Cristiana Lôbo
A poucos dias de deixar o gabinete no terceiro andar do Palácio do
Planalto – se confirmado o afastamento em razão do processo de
impeachment que tramita no Senano Congresso –, a presidente Dilma
Rousseff alterna momentos em que fica mais reflexiva com outros, mais
frequentes, as habituais explosões de impaciência com quem está a seu
lado.
Assessores do Planalto avaliam a legislação para saber
como deve ser o ato em que ela receberá a notificação do Senado, caso
seja confirmado seu afastamento – se será ou não uma cerimônia aberta,
como foi no caso de Collor (cena registrada e amplamente exibida em que
ele olha no relógio antes de assinar a notificação); e, também, por onde
ela sairá – se pelo elevador privativo ou se descerá a rampa. Até aqui,
não há previsão de que familiares estarão com ela nesse momento.
A
presidente está consciente da situação política que vive. Ela já
retirou caixas com papéis do gabinete presidencial. Despachou tudo para o
Palácio da Alvorada, onde pretende ficar durante o período de
afastamento, de até 180 dias.
É lá que prepara o que no Planalto está sendo chamado de "QG da
Resistência". Segundo pessoas próximas, apesar de muitas evidências,
Dilma dá indicações de que acredita que exista a possibilidade de voltar
ao cargo. "A luta continua", brinca um funcionário do Planalto.
Nos
momentos em que demonstra maior irritação, Dilma cita o vice Michel
Temer, a quem chama internamente da mesma forma como já tem feito
publicamente – de "conspirador". E diz que o que mais dói é o fato de
ser afastada para dar lugar a Temer e Eduardo Cunha, a quem atribui o
papel de seu algoz.
Nestes dias finais, pelo menos toda a semana
que vem, Dilma terá cerimônias no Palácio do Planalto em diversas áreas.
Vai apresentar o Plano Safra e o Plano Agrícola na semana que vem; um
balanço do programa Mais Médicos; e a política indigenista.
É
claramente uma agenda de balanço de governo. Na quarta-feira, Dilma deve
receber a tocha olímpica, como símbolo das Olimpíadas do Rio de
Janeiro.
"Aqui, já virou a chave", disse um assessor com muitos anos de
experiência no Palácio do Planalto. Ele quis dizer: está tudo pronto
para a saída de Dilma e para a chegada do vice Michel Temer.
A
esta altura, Dilma e mais próximos querem saber qual a estrutura
administrativa a que ela terá direito como "presidente afastada" –
afinal, mesmo se confirmada a decisão do Senado de afastá-la por até 180
dias, Dilma não terá perdido o mandato.
Alguns fazem a analogia
com a estrutura dada a ex-presidentes da República – um total de oito
assessores. Outros dizem que ela poderá se valer de outras coisas da
estrutura do poder. A grande dúvida é se ela poderá usar ou não o avião
presidencial.
Essa pergunta foi feita a Renan Calheiros na
conversa que tiveram na terça-feira. No momento em que o Senado
notificá-la da decisão de afastamento do cargo, o Senado é que deve
definir a estrutura administrativa a que ela terá direito.
O uso do avião presidencial é um dado importante porque os petistas
querem organizar manifestações e atos em defesa de Dilma e estrutura do
partido.
O já esperado afastamento de Dilma suscita algumas
discussões entre assessores mais próximos: ministros citados na Operação
Lava Jato, por exemplo, perderão o cargo e a prerrogativa de foro.
Assim,
vão precisar contratar advogados para fazer sua defesa junto à Justiça
em Curitiba – que já se mostrou mais célere do que o Supremo Tribunal
Federal.
O PT, por exemplo, faz uma avaliação de seu caixa para
saber se poderá custear despesas da presidente afastada e dos ministros
que precisarão advogado. O partido, segundo pessoas próximas, não teria
se preparado para uma situação como essa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário