Blog da Folha
Por Carol Brito e Leonardo Malafaia
Da Folha de Pernambuco
Uma história de vingança e poder que deixou um rastro de tragédia no
município de Garanhuns, no Agreste, completará 100 anos em janeiro de
2017. Denominado de Hecatombe de Garanhuns, o massacre marcado por
rivalidades, desencontros e enganos, varreu as principais lideranças
políticas do município no começo do século passado, quando, pelo menos,
15 pessoas foram mortas.
Para resgatar o episódio, a Comissão do Memorial do Centenário da
Hecatombe foi criada e prepara uma série de ações para os próximos
meses. No dia 15, será lançada a biografia dos exprefeitos vítimas do
massacre, como Manoel Antônio de Azevedo Jardim, Francisco Veloso da
Silveira, Argemiro Tavares de Miranda e Júlio da Silva Brasileiro. No
iníciodo Século XX, o declínio da tradicional família Jardim na política
de Garanhuns abriu espaço para o fortalecimento do grupo do Coronel
Júlio Brasileiro.
Sem uma oposição consolidada, a situação se reverteu em meados de
1916, quando o prefeito de Garanhuns, Francisco Vieira dos Santos,
rompeu como líder político para construir um projeto independente no
pleito de 1917, que contava como apoio de lideranças locais, como a
própria família Jardim, e candidatos a cargos eletivos, como o Dr. José
da Rocha Carvalho para prefeito e Dr.
Antônio Borba Júnior para
subprefeito. Como resposta, a ala governista lançou à majoritária o seu
líder Júlio Brasileiro, que ocupava o cargo de deputado estadual.
A eleição foi conturbada e o pleito acabou sendo anulado por suspeita
de fraude eleitoral. Com a realização de uma nova eleição, Brasileiro
concorreu sozinho e venceu, mas o destino ainda iria pregar uma trágica
peça no gestor eleito. Durante a campanha, o Capitão Sales Vila Nova
passou a criticar, duramente, por meiode artigos nos jornais do Recife,
irregularidades dos protegidos do coronel Júlio Brasileiro.
Contrariados com as acusações, aliados do Julismo, cobraram o fim dos
artigos com ameaças de aplicar no capitão “uma surra de cipó de boi”,
castigo considerado humilhante na época.
A primeira morte
Com a insistência nas publicações de Vila Nova, os aliados de Júlio
Brasileiro cumpriram a promessa. No dia 12 de janeiro de 1917, o capitão
foi surpreendido por seis indivíduos mascarados que o espancaram. Dois
dias depois, seguiu para Recife como intuito de prestar queixa contra o
prefeito eleito, sob o argumento de que ele seria o mandante das
agressões.
Por acaso, encontrou o rival no terraço do Café Chile, na praça da
República, e, em um ato impulsivo de vigança, disparou contra o coronel
Júlio Brasileiro, que morreu no local. Quando a notícia da morte do
líder político chegou em Garanhuns, a viúva Ana Duperon teria declarado
que não derramaria um lágrima até que fosse vingada a morte do seu
marido.
Membros e aliados da família alimentaram a ideia de que o Capitão
teria sido apenas um instrumento da vigança de inimigos políticos do
prefeito eleito. Um sentimento de profundo ódio invadiu os aliados de
Brasileiro que reuniram um grupo de desordeiros e capangas armados com
rifles para se dirigir a cidade em busca dos inimigos políticos do
patriarca da família.
No entanto, muitos deles foram avisados e se esconderam. Diante do
caos instalado, o subdelegado Antônio Rosa procurou Ana, a viúva do
coronel Brasileiro. Na ocasião, foi arquitetado um plano maquiavélico:
abrigar todos os inimigos do Julismo na cadeia pública, sob a promessa
de que estariam seguros.
O massacre
Aliado da família Brasileiro, o tenente Meira Lima convenceu as
lideranças políticas de que a cadeia era intransponível. Estava montada a
armadilha. Um grupo com mais de cem cangaceiros se dirigiu ao local. O
comandante da guarda, Cabo Cobrinha, até reagiu. No entanto, a guarda,
fragilizada pela sabotagem do tenente – que havia retirado a munição – ,
foi facilmente derrotada e os soldados foram mortos.
Os adversário do Julismo chegaram a receber revólveres escondidos
dentro de guardanapos nas bandejas de refeição oferecidas na cadeia. Mas
não foi o suficiente para evitar a chacina, que deixou um rastro de
sangue e exterminou alguns dos principais adversários de Júlio.
Consumada a hecatombe, parentes da família Brasileiro comunicaram à viúva que ela estava livre para chorar a morte do marido.
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