quarta-feira, 20 de novembro de 2013

TRATAMENTO DIFERENCIADO DE MENSALEIROS REVOLTA PARENTES DE DETENTOS NA PAPUDA

 Estado de Minas

As portas do Complexo Penitenciário da Papuda são abertas para visita aos presos apenas às quartas e às quintas-feiras, das 9h às 15h. Menos para os condenados ilustres no processo do mensalão. O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o deputado federal José Genoino (PT-SP) e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares tiveram um dia de muitos encontros. Eles receberam familiares, políticos, um carro com placa diplomática e até uma van que levou deputados, os outros nove detidos no local por causa da Ação Penal 470, como o operador do esquema, Marcos Valério, não tiveram o mesmo benefício. A romaria revoltou parentes de presos que, desde essa terça-feira de manhã, chegavam à porta da Papuda para garantir lugar na fila da senha distribuída hoje para liberação das visitas.

“Coitado do meu filho. Se fosse bem tratado igual a eles...”, lamentou Aline*, de 59 anos, que há dois anos e três meses visita o filho semanalmente. Enquanto o grupo de cerca de 20 mulheres, alguns poucos homens só chegaram à noite, tentavam matar o tempo, a movimentação em frente à penitenciária não parou. Ainda de manhã, o deputado federal Paulão (PT-AL) deixou o presídio relatando as visitas recebidas por Genoino, como a da mulher, Rioco Kayano, e dos três filhos que entraram junto com o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), irmão de Genoino. A família já o havia visitado anteontem, com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Questionado sobre a regalia, Paulão alegou: “É uma responsabilidade da direção do presídio, isso não é influência do PT nem de nenhum parlamentar”. De acordo com ele, Mônica Valente, mulher de Delúbio, e um irmão do ex-tesoureiro estiveram no local, além de “amigos” de Dirceu. Os deputados Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro; Erika Kokay (PT-DF), Renato Simões (PT-SP) e o presidente do PT, Rui Falcão, também estiveram lá.

No fim da tarde, uma van com deputados cruzou a portaria. Na parte da frente, estavam Amaury Teixeira (PT-BA) e Benedita da Silva (PT-RJ). Ao longo do dia, pelo menos 14 pessoas estiveram com os três condenados, excluindo os advogados. As regras do presídio, porém, limitam as visitas a quatro por preso a cada dia. Para entrar, eles passam por scanner corporal e, muitas vezes, por revista íntima, sem roupa.

A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) informou, por meio da assessoria, que as visitas aos condenados do mensalão foram autorizadas excepcionalmente pelo diretor da unidade, porque o dia de visita aos presos, que estavam em ala federal, seria ontem. Como eles foram transferidos para o setor de semiaberto, a entrada foi permitida. A pasta alegou que parlamentares não precisam de permissão, mas não soube informar a norma que regula o assunto. O órgão garantiu que os visitantes passaram pelo raio-x e que a revista íntima é exceção. Segundo o deputado Paulão, entretanto, o único procedimento foi deixar o celular do lado de fora.

A argumentação da secretaria, no entanto, não diminuiu a revolta de Rebeca*. “Quem tem dinheiro e poder pode tudo. A gente é humilhado, xingado, tratado que nem cachorro”, acredita a mulher de 28 anos, cujo marido está preso por formação de quadrilha. “Como não há revista íntima, se até nós, da Pastoral, temos de ficar nus lá?”, indaga o assessor jurídico da Pastoral Carcerária, José de Jesus Filho.
Genoino

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) sobre a saúde de Genoino, feito a pedido da Justiça do Distrito Federal, concluiu que ele é "paciente com doença grave, crônica e agudizada, que necessita de cuidados específicos, medicamentosos e gerais". O documento afirma ainda que é necessário controle periódico por exame de sangue, dieta com reduzido consumo de sal e adequada aos medicamentos. Até o fim desta edição, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, aguardava laudo para decidir se aceita o pedido de prisão domiciliar feito pela defesa de Genoino. Em parecer enviado ao STF, a Procuradoria Geral da República pediu que o deputado seja analisado por uma junta de cardiologistas.
Genoino, Dirceu e Delúbio aproveitaram a visita do advogado Luiz Egami para divulgar uma carta, escrita a mão, endereçada à militância do partido, em que agradecem o apoio recebido e dizem que “não se curvarão à humilhação”. Juristas, intelectuais e dirigentes do PT, divulgaram ontem um manifesto público que classifica a decisão de Barbosa de "ilegal".

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