Blog de Jamildo
Uma proeza. É como pode ser considerada a
eleição de Priscila Krause (DEM) para a Assembleia Legislativa de
Pernambuco (Alepe), neste domingo (5), na segunda tentativa de ocupar o
cargo. Desta vez, diferentemente de 2010, tinha contra si o fato de
estar fora do guia eleitoral e de não ter apoio no interior. Mesmo
assim, a parlamentar conseguiu 48 mil votos e foi eleita pela coligação
Frente Popular, já conhecida por puxar vários deputados com o seu poder
de angariar votos. Assim, se manteve como figura de destaque no
Democratas, partido que já esteve entre os principais e hoje não tem
tanta força no Estado.
A aliança da sua legenda com o Partido
Socialista Brasileiro foi o que levou Priscila a abdicar do horário
eleitoral. Adotando postura fiscalizadora na Câmara Municipal do Recife,
a vereadora tem como rotina apontar deficiências na gestão de Geraldo
Julio (PSB) no poder executivo da capital e achou que estar no mesmo
guia que o partido dele poderia ser uma incoerência. “Entendo a
conjuntura politíca no Estado e que o partido precisa fazer essa
reorganização, mas é muito difícil para mim”, revelou. “Eu não iria
conseguir explicar isso ao eleitor. Preciso que o eleitor tenha certeza
dos meus atos, da minha coerência”, justificou.
A democrata conta que chegou a ponderar
se seria candidata, mesmo desejando ocupar o cargo após três mandatos
como vereadora. Porém, seu nome foi lançado e a legenda decidiu apoiar a
sua decisão de não fazer campanha junto com os socialistas, antigos
adversários – o presidente do partido em Pernambuco, Mendonça Filho,
enfrentou Eduardo Campos (PSB) na eleição ao Governo do Estado em 2006,
por exemplo. Sem estrutura e sem apoio no interior, a democrata fez
campanha principalmente no Recife. Para tentar contornar os problemas na
propaganda, Priscila apostou na internet, com a criação da TV 25222 no
Youtube, em que apresentou propostas e também explicou a sua ausência no
guia, o vídeo mais assistido do canal, com mais de 600 visualizações,
embora os outros não passem de 50 views.
A candidata também levou para a internet
o seu pai, o ex-prefeito do Recife e ex-governador de Pernambuco
Gustavo Krause, que considera ter sido o seu primeiro cabo eleitoral, na
eleição de 2004, quando disputou e venceu o primeiro mandato para
vereadora. “Costumo dizer que o voto (naquele pleito) foi dividido entre
os da gratidão (ao pai) e os da aposta (na própria Priscila)”, revela a
vereadora. Dez anos depois, o pai disse no vídeo – assistido menos de
30 vezes: “Ao transformar ideias em proposições, em iniciativas
concretas, ela contribui para a vida dos pernambucanos fiscalizando
efetivamente o bom uso do dinheiro público.”
Antes mesmo de decidir tentar a vida
parlamentar, Priscila já era filiada à legenda do pai, o Partido da
Frente Liberal (PFL), que, em 2007, trocou de nome para Democratas. A
origem da sigla remonta à Arena, partido de sustentação do governo da
ditadura militar brasileira, criado com o Ato Institucional 2, que
instituiu o bipartidarismo – em oposição estava o Movimento Democrático
Brasileiro, atual PMDB. Nas décadas seguintes, o PFL pernambucano teve
como grande nome Marco Maciel, vice-presidente nos dois mandatos de
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na Presidência da República.
Priscila Krause, de pensamento liberal,
vai contra as críticas de que o partido tem diminuído e se diz orgulhosa
da legenda. “Hoje tenho um partido pequeno, que desidratou, mas que
expulsa quem age de maneira equivocada”, disse, criticando o Partido dos
Trabalhadores de forma velada e citando o caso do ex-governador do
Distrito Federal, José Roberto Arruda, envolvido em esquema de corrupção
que saiu do DEM durante um processo de expulsão que a legenda abriu
contra ele – mas a sigla voltou a apoiá-lo este ano, quando foi lançado
candidato pelo PR ao mesmo cargo.
Até este ano, o DEM não tinha influência
direta sobre o poder executivo, mas pelo menos mantinha um nome em cada
Casa do legislativo: Priscila Krause como vereadora, Maviael Cavalcanti
na Alepe e Mendonça Filho como deputado federal, em Brasília, como
deputado federal.
Provavelmente, segundo estratégia do
próprio partido, o coeficiente não seria atingido se eles continuassem
na oposição histórica, perdendo ainda mais espaço. Quando era PFL, a
legenda conseguia eleger boa parte dos parlamentares pernambucanos.
Como deputada, Priscila Krause pretende
manter a postura de fiscalizar o poder executivo, além de fazer
proposições como a criação de um programa de metas do governo, que
instituiria como lei os compromissos assumidos pelos candidatos durante a
campanha. Dessa forma, quer continuar as cobranças, agora ao “aliado”
Paulo Câmara (PSB), eleito governador também pela Frente Popular,
aliança que mudou de vez a cara da oposição em Pernambuco. Até as
últimas eleições municipais, cabia ao DEM, PSDB e PMDB a oposição. A
partir deste pleito, o papel de contestar será exercido pelo PT e PTB,
antes coligados com o PSB.
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