Cristiana Lôbo
Na reunião no Palácio da Alvorada para avaliar o momento
político pós-manifestações, o ex-presidente Lula virou-se para Dilma
Rousseff e disparou: "Dê uma notícia boa para o povo; só tem coisa ruim:
é aumento de energia, aumento de gasolina, problema de água. Assim,
ninguém aguenta". A presidente respondeu com duas frases: "Não tem
dinheiro para nada. O ajuste fiscal mal começou".
A maré de
notícias negativas não pára. O governo já tem pesquisas internas
mostrando que a imagem da presidente foi duramente afetada nesses
primeiros dias de governo. O contingente dos que aprovam o governo caiu
bastante, e o dos que desaprovam teria disparado. Até aqui, as pesquisas
são internas. Mas, sabe o governo, nos próximos dias, pesquisas dos
institutos de pesquisa serão divulgadas. Daí, o desgaste não será
segredo para ninguém. E o ministro Miguel Rossetto não poderá mais dizer
que aqueles que foram às ruas no domingo são aqueles que já não votaram
em Dilma. As pesquisas internas mostram que eleitores de Dilma estão
desaprovando o governo.
Os governistas estão atônitos em busca de
um caminho a seguir. O primeiro deles, é não deixar que a base aliada
seja contaminada e que Dilma perca o controle do Congresso. Isso, até
aqui aos trancos e barrancos, ela tem conseguido segurar. Mas com
pesquisas desanimadoras na rua, o custo fica mais alto. Dilma já sabe e
está disposta a entregar mais espaço ao PMDB, o partido que detém as
presidências da Câmara e do Senado. Sabe muito bem, também, que a
decisão de acolher qualquer eventual pedido de impeachment que seja
apresentado é monocrática do presidente da Câmara.
Ou seja, a
oposição, que já se movimenta para pedir investigações sobre a
presidente, pode vir a apresentar pedido de afastamento - coisa que hoje
é considerada muito remota. Mas pedidos semelhantes já foram
arquivados. E, no mundo político, este tipo de pedido aparece de tempos
em tempos, em qualquer governo.
A cada dia, no entanto, uma
dificuldade vai sendo agregada à vida de Dilma. A última, é o panelaço.
Desde o dia 8 de Março, quando ela fez pronunciamento à Nação pelo dia
Internacional de Mulher, as famílias aprenderam a bater panelas pelas
janelas em protesto à fala da presidente.
Sem dinheiro para dar aumentos novos ao salário mínimo ou anunciar
novas obras do PAC, a sugestão de Lula a Dilma foi a de falar mais. Mas,
daqui em diante, isso terá de ser feito em entrevistas improvisadas
depois de cerimônias no Palácio. Qualquer pronunciamento à Nação pode
vir ao som de panelaços. E, em lugar de ajudar, só vai atrapalhar mais a
já difícil situação da presidente.
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