Folha de Pernambuco
O ano tem início com chuvas abaixo da média no Agreste e Sertão do
Estado. A previsão desanimadora é feita por meteorologistas, que apontam
uma redução de 45% nos índices pluviométricos, para o período de
fevereiro a abril. A persistência da ação do fenômeno El Nino é o
elemento principal identificado, decorrente do aquecimento da
temperatura do oceano e o enfraquecimento dos ventos. Um fator que
preocupa diz respeito ao abastecimento de água para essas regiões, já
historicamente castigadas. De acordo com a Compesa, o baixo volume da
barragem de Jucazinho já compromete 23 municípios, estando 15 deles em
situação emergencial. Como se não bastasse, o aperto nas torneiras ainda
exige mais atenção quanto à saúde. O mosquito Aedes aegypti segue como
um grande vilão, se aproveitando de baldes e demais reservatórios para
se reproduzir.
“Estamos vivendo uma situação deficitária que já assinala três anos.
Todo o semiárido nordestino acaba na linha de frente dos ventos
enfraquecidos, que no verão se movem em direção ao continente.
Apesar
das chuvas registradas desde a primeira quinzena de janeiro, os dados
mostram baixa umidade para o período seguinte”, explicou o
meteorologista Fabiano Prestrelo, da Agência Pernambucana de Águas e
Clima (Apac). “A base é em torno de 800 milímetros de chuva no ano para o
Sertão e trabalhamos com um estimativa de pelo menos a metade disso. A
chuva dará sinal, mas de natureza escassa e irregular”, reforçou. Ao
longo de 2015, a precipitação do Sertão foi de 307,5 milímetros,
enquanto que a média é de 559 milímetros. Neste panorama, choveu 45%
abaixo da média histórica.
Nesta semana, meteorologistas discutiram na sede do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em Brasília, o cenário
climático para todo o País. Pernambuco aparece como quadro de alerta,
sobretudo no comprometimento a agricultura. “Este é um ano de atuação do
El Niño no Oceano Pacífico, o que torna o sistema Vórtice Ciclônico de
Altos Níveis (Vcan) ainda mais forte. No ano passado, o Agreste
assinalou apenas 33% da média histórica”, comentou o Wanderson Santos,
do Laboratório de Meteorologia de Pernambuco (Lamep). O panorama mais
favorável é previsto para a zona leste, compreendida pela Região
Metropolitana e Zona da Mata. “O indicativo é de normalidade. Já
registramos um aumento superior a 200% nas chuvas no Grande Recife”,
acrescentou.
Na visão do presidente da Compesa, Roberto Tavares, a situação mais
crítica é a do Agreste, já que o Sertão ainda conta com canais
abastecidos pelas águas do rio São Francisco. A barragem de Jucazinho,
localizada no município de Surubim, atingiu o menor nível de capacidade
em mais de 15 anos, marcando pouco mais de 1,5% de sua totalidade. O
volume morto já ultrapassou a marca de colapso. “As chuvas de verão são
bem vindas, mas não são animadoras. Os alertas implicam em quadros de
seca para os próximos meses. A nossa torcida é para que as previsões não
se confirmem”, disse o gestor.
Segundo ele, uma reunião na próxima terça-feira, busca destravar os
recursos para a construção da adutora do Agreste, avaliada, apenas na
primeira etapa, em R$ 1,3 bilhão. A nova fase da Adutora do Sirigi,
localizada na cidade de São Vicente Férrer, pretende ofertar 300 litros
de água por segundo. O sistema também beneficia as cidades de Machados,
Macaparana, Aliança, Condado, Itaquitinga, Buenos Aires e Vicência.
BARONESAS
O aumento das chuvas no Recife trouxe águas barrentas e a presença de
baronesas, mudando a paisagem do rio Capibaribe. Também conhecidas como
água-pés e rainha-dos-lagos, a concentração verde se alimenta de matéria
orgânica. De acordo com especialistas, apesar de servir de filtro, é um
sinal de que a poluição atingiu níveis mais altos. Os detritos
presentes nos rios, assim como a chuva, podem favorecer a propagação
desses vegetais. Esse efeito torna-se um elemento preocupante, pois
reduz a oxigenação da água e impede a fotossíntese de espécies vegetais
aquáticas, com repercussão negativa no ecossistema.
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