Agência Brasil
Está aberta uma nova temporada de arte e cultura com o escritor
paraibano Ariano Suassuna, que está rodando o Brasil com seu novo
projeto, Arte como Missão. Nele, presenteia o público com uma
aula-espetáculo, em que conta uma série de histórias e transporta os
espectadores para um Brasil genuíno, simples e intacto.
Com a voz trêmula, justificada por seus 86 anos de idade, e certo tom
de pureza em cada frase, como se nunca tivesse saído do sertão da
Paraíba, onde passou parte da infância, Suassuna se apresentará para
milhares de pessoas em seis cidades. A primeira parada foi em Brasília e
lotou o Teatro Nacional. No dia 18 de julho, o Arte como Missão
desembarca em Fortaleza. As paradas seguintes serão: Rio de Janeiro,
Salvador, Curitiba e São Paulo.
“Eu acho que tenho a obrigação de mostrar ao povo uma alternativa para
essa arte de quarta categoria que anda se espalhando por aí, corrompendo
o gosto do nosso povo, procurando nivelar tudo pelo gosto médio”, disse
o ocupante da cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras. Suassuna
diverte o público e exalta um talento esquecido, ou sequer sabido, por
muitos. “O povo brasileiro tem uma habilidade extraordinária para
inventar as histórias mais valiosas do mundo. Para fazer O Auto da
Compadecida, minha peça mais conhecida, me baseei em histórias do povo
brasileiro”, contou.
O projeto vai além da aula-espetáculo. O Arte como Missão traz um
pacote cultural multimídia. Além dos palcos, Suassuna pode ser apreciado
em um ciclo de filmes dedicados à sua obra e visto na exposição
fotográfica O Decifrador, de Alexandre Nóbrega.
“[…] Vejo que talvez só eu mesmo pudesse fazer uma coletânea como esta,
em que o autor de O Auto da Compadecida é flagrado na vida inusitada de
homem comum, um esboço do seu universo particular”, diz Nóbrega, no
texto de introdução da exposição.
Genro de Suassuna, Nóbrega acompanha o escritor há dez anos e viaja com
ele pelo Brasil para cumprir compromissos. Artista plástico, se valeu
de uma máquina fotográfica para registrar diversos momentos da rotina de
Suassuna, ou algo próximo disso. Afinal, é difícil conhecer alguém que
frequentemente utilize como escritório a Caatinga nordestina, em frente à
uma gigantesca formação rochosa, adornada por pinturas rupestres.
De acordo com Nóbrega, seu sogro não sabia que o livro O Decifrador,
que deu origem à exposição, estava sendo feito até vê-lo pronto. “Ele
ficou muito surpreso, pois não estava a par da confecção do livro, mas
não ficou desconfortável com a ideia, ele não é tímido. Sua relação com
as pessoas é muito boa, desde quando se tornou professor”, explica
Nóbrega. “Por conta do grande assédio, Ariano só não faz duas coisas que
gostaria. Ir à missa e ao estádio de futebol”, completa.
O Brasil a ser percorrido pelo escritor nos próximos meses vive um
caldeirão político e social. Milhares de pessoas estão indo às ruas para
exigir melhoras dos serviços públicos, mostrar a força do poder
popular. Na estreia do projeto, em Brasília, Suassuna não teceu
comentários a respeito. Mas relembrou episódio da história nacional,
quando a sociedade também estava ávida por mudanças.
“Eu acho que Canudos é o episódio mais significativo da história
brasileira”, disse, referindo-se à Guerra de Canudos, quando uma pequena
comunidade, no interior da Bahia, lutou incansavelmente contra o
Exército no final do século 19. Composta por sertanejos pobres e
ex-escravos, o povo de Canudos derrotou os militare em três batalhas, se
fazendo notar e entrando para a história do país, como reforça o
escritor. “Quem não entende Canudos, não entende o Brasil”.
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