Diário de Pernambuco
No município mais dilmista do Brasil, a fidelidade à presidente da
República resiste à repercussão negativa dos protestos irradiados pelo
país. É assim em Calumbi, cidade do sertão de Pernambuco que em 2010 deu
96,5% dos votos para a candidata do PT no segundo turno e ganhou fama
por registrar a maior vitória proporcional contra José Serra (PSDB):
recebeu 4.142 votos contra apenas 150 do tucano. “Ave-Maria!, se a
eleição fosse hoje, votava nela de novo. Os prefeitos fazem besteira,
não resolvem os problemas e botam a culpa nela? Isso eu não aceito”, diz
a dona de casa Helena Gomes, de 57 anos. Ela defende a presidente, mas
dá “o maior apoio” às manifestações, incluindo aos que saíram às ruas da
pequena Calumbi com cartazes na mão. “Não mudei nada, nadinha do que eu
pensava sobre Dilma”.
Naquela época, Dilma era tratada quase
como uma pop star na casa de Helena; e continua sendo. O marido dela,
João Pedro, explicou o motivo da fidelidade: “Dilma continuou com o
Bolsa-Família para quem precisa e mandou dinheiro para obras. Se o povo
come o dinheiro e não faz escola, nem ajeita os postos de saúde e não
faz calçamento, é outra história”. Foi por isso que seu João Pedro
engrossou a passeata que circulou pelo Centro de Calumbi no último dia
22.
Seu João e dona Helena fazem parte dos 30% de brasileiros que
aprovam hoje a gestão de Dilma – percentual que vem caindo desde o
início das manifestações, conforme mostrou a pesquisa mais recente, do
Instituto Datafolha. A popularidade de Dilma no país era de 57% no
início de junho e despencou para 30% na semana passada, somando os que
consideram a gestão “boa ou ótima”.
A
agricultora Zimar Lopes, de 43 anos, também faz parte do grupo dos
satisfeitos: “A gente mora no fim do mundo e toda ajuda é boa. Aqui
mesmo, o que divulgavam que ela ia fazer foi feito. A ponte, por
exemplo”, citando a obra concluída no ano passado que facilita o acesso a
comunidades rurais. “A gente economiza R$ 7 em cada viagem. Por essas
coisas, eu continuo dando apoio a ela”, sentencia Zimar.
Calumbi não é só pequena, é pobre e também vive uma crise de autoridade.
Tem cerca de 5,6 mil habitantes. O prefeito, Erivaldo José da Silva
(PSB), está no cargo sob liminar porque teve o diploma cassado pela
Justiça Eleitoral, acusado de cometer abuso de poder econômico e de uso
pessoal da máquina pública. A população aguarda o julgamento dos
recursos no Tribunal Regional Eleitoral do estado (TRE-PE). Parte das
bandeiras do protesto calumbiense foi direcionada ao prefeito.
A
mobilização de Calumbi começou a ganhar corpo entre amigos que fazem
parte do grupo jovem da Igreja Católica. O protesto conseguiu
arregimentar cerca de 60 pessoas. E isso só foi possível com a ajuda das
redes sociais. Teve palavras de ordem, caras pintadas e cartazes
escritos a mão. “Aquele que não reclama, não luta pelo futuro que quer,
não pode reclamar do futuro que lhe vier”, estampava um deles. “Nós nos
inspiramos nos outros protestos. Não podíamos ficar de fora”, disse
Caroline Guerra, de 18 anos, moradora do município, estudante de
fisioterapia na Faculdade Integrada do Sertão e uma das organizadoras do
ato.
“Pode não ter sido tanta gente como nos outros lugares, mas foi
muita gente considerando que aqui, por ser uma cidade pequena e com
poucas fontes de renda, as pessoas têm dificuldade de se manifestar
contra o poder local”, disse.
Caroline ficou satisfeita com o
resultado. Para ela, foi uma forma de mostrar que “é preciso parar de
reclamar e começar a procurar melhorias”. A maior parte dos que aderiram
ao protesto de Calumbi foi formada por estudantes, que assim como no
restante do Brasil carregavam cartolinas escritas com tinta a dedo,
repetiam frases contra a corrupção e reclamavam de problemas pontuais
(no caso de Calumbi, a maior bandeira foram as obras públicas
inacabadas). Da mesma forma como ocorreu nas principais capitais, o
assunto tomou conta da web, foi replicado por blogs locais e conseguiu
apoio dos que estudam ou residem em cidades próximas.
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