Correio Braziliense
Diego Amorim
O Brasil esbanja recursos naturais. De tudo se perde. A cada ano, 26,3
milhões de toneladas de comida são jogadas fora: volume suficiente para
distribuir 131,5 kg para cada brasileiro ou 3,76 kg para cada habitante
do planeta. Toda essa comida alimentaria facilmente os 13 milhões de
brasileiros que ainda passam fome, nas contas da Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Poderia ainda facilitar o
trabalho do Banco Central no combate à inflação. Com uma oferta maior
de produtos, os preços não subiriam tanto e o país poderia até mesmo
diminuir a importação de feijão preto da China.
O desperdício de comida provoca mais do que prejuízos financeiros,
gera revolta e inconformismo. Ainda assim, o Brasil pouco se mobiliza
no sentido de mudar esse quadro aterrador. Desde 1998, a chamada Lei do
Bom Samaritano, em alusão a uma passagem bíblica, tramita no Congresso
Nacional, e não há previsão alguma para que seja votada. A intenção da
proposta é isentar doadores de alimentos de responsabilidade civil e
penal, se agirem de boa-fé, na distribuição de comida — semelhante ao
que ocorre em países da Europa e nos Estados Unidos.
Enquanto
essa lei não é aprovada, o Estado brasileiro pune severamente os
doadores. A legislação atual prevê até cinco anos de prisão caso quem
receba os alimentos sofra algum tipo de dano em decorrência da comida.
Com isso, donos de restaurantes, por exemplo, se sentem obrigados a
despejar no lixo as sobras diárias da produção. “É um crime”, define o
diretor executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(Abrasel), Gustavo Timo.
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