domingo, 23 de junho de 2013

CRISTÃOS GAYS SE REÚNEM EM IGREJA




Em tempos de discussão sobre a “cura gay”, projeto de lei que determina o fim da proibição, pelo Conselho Federal de Psicologia, de tratamentos que se propõem a reverter a homossexualidade, uma igreja localizada no bairro do Poço, em Maceió, prega exatamente o contrário: a aceitação da condição homossexual como obra de Deus, e não uma doença.

Fundada, dirigida e frequentada quase exclusivamente por homossexuais, a Igreja Missionária Inclusiva (IMI) busca ser, como seus líderes mesmo pregam, um oásis de aceitação e um lugar onde os cristãos LGBTT podem se aproximar de Deus sem nenhum tipo de discriminação.

Fundada há pouco mais de um ano, a missão foi organizada pelo pastor Gustavo Cezar Germano, 24, ex-batista, natural do Recife. De acordo com o presbítero Bruno Albyran, que é homossexual assumido, o propósito maior da IMI é trazer os homossexuais de volta à igreja.

“Nosso objetivo é trazer de volta essas pessoas que abandonaram o cristianismo por não serem aceitas devido à sua sexualidade. Muitas alegam que não queriam abandonar a igreja onde estavam, mas a homofobia velada dentro dessas instituições tradicionais as obrigaram a isso” explica Albyran.

Pregando este objetivo, a IMI consegue reunir cerca de 20 membros fixos, a maioria do gênero masculino, com idades que variam entre 14 e 35 anos, de diversas denominações cristãs e até mesmo de religiões diferentes. E, ao contrário do que possa parecer, não existe conflito ideológico entre eles, apesar de já terem sido chamados de “falsos profetas do apocalipse” por pastores de denominações tradicionais.

Essa missão inclusiva é a única do gênero em todo o estado de Alagoas. E, por conta disso, vem enfrentando diversas dificuldades. “Nosso grupo é formado por jovens sem renda fixa. E não temos sede própria. Além disso, muitos membros aqui chegam com diversos problemas, alguns até traumatizados por suas antigas igrejas, tanto que eles têm uma certa dificuldade de acreditar que é possível ser gay e cristão.

Esse foi o caso de Rafael Lopes, 22, membro da IMI há mais de um ano. Vindo de uma tradição cristã, e sofrendo pressão por ser o único homossexual declarado da família, ele relutou um pouco ao conhecer a igreja. “No começo eu tinha medo, até achava um pouco estranha. Contudo, depois de vários convites de amigos, resolvi ir. Lá eu encontrei um lugar de aceitação, onde posso me encontrar com Deus. Minha família me compreende por isso, e me sinto feliz”.

A situação é semelhante à da estudante Julliana Borba, 24. Ela cresceu em uma família que seguia a igreja Batista, mas já frequentou diversas igrejas. “Eu não me sentia bem em nenhuma igreja tradicional, por conta da minha condição sexual. Na IMI eu me sinto acolhida. É um bom lugar para procurar a Deus e sentir amor”.

Seguindo a Bíblia

Assim como outras igrejas, a IMI também usa a Bíblia e tem suas normas a respeito de como seus membros devem se relacionar. “Orientamos nossos membros a se relacionarem de forma séria com seus companheiros, a casarem e constituírem família. Nós queremos desconstruir a visão de que todo gay é promíscuo e infiel. Por isso, somos a favor do casamento civil igualitário”, explica Albyran.

Ele conclui com um desabafo. “Se nascemos gays ou héteros foi para um propósito específico. Eu falo por mim. Nasci gay para que hoje eu pudesse ajudar outros gays que passam pelos mesmos dramas que eu.
Gays são criação de Deus, e não uma doença que precise de cura. É como diz a Palavra, 'Pois dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas”.

A reportagem do G1 tentou contato com diversos pastores de denominações cristãs tradicionais, a fim de conhecer a opinião deles ou de suas igrejas a respeito da IMI. Contudo, todos os procurados preferiram não se manifestar sobre o assunto ou não atenderam as ligações.

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