O GLOBO
As manifestações que sacodem o Brasil deram o tom do Gol Day ontem, em Nova York. Os investidores de Wall Street que encheram
um salão da New York Stock Exchange (Nyse) para o encontro anual com o
comando da companhia aérea demonstraram mais preocupação com o clima do
país e seus possíveis impactos no setor do que especificamente com os
números da empresa, cujas ações acumulam queda de quase 50% no ano.
Paulo Kakinoff, diretor-presidente da Gol, e seu diretor executivo
financeiro e de Relações com Investidores, Edmar Lopes, reconheceram que
o ano é de desafios, mas anunciaram uma estratégia para se ajustar à
valorização do dólar — entre outras medidas, cortando 200 voos semanais
em rotas domésticas, o equivalente a 9% da oferta atual da empresa, a
partir de agosto.
— Muitos voos são deficitários, então, cortando
alguns destes, eu mantenho a margem operacional (entre 1% e 3%), por
mais paradoxal que isso possa parecer. Os voos que estamos cortando são
aqueles economicamente não interessantes. Também trabalhamos num
programa de eficiência de combustível junto com a Boeing, uma economia
de 6% por voo, e não repusemos o turnover que houve nos aeroportos,
reduzindo o número de empregados — disse Kakinoff ao GLOBO após o
evento.
Apesar do anúncio, as ações preferenciais (PN, sem voto)
da Gol fecharam ontem em baixa de 7,55%, a R$ 6,73. Desde o fim do ano
passado, o valor de mercado da aérea encolheu em R$ 1,7 bilhão, para R$
1,8 bilhão.
Durante a reunião, o executivo anunciou ainda que já
reduziu em 20% o número de funcionários, investindo em check-in remoto e
em estações de autoatendimento nos aeroportos. E, em resposta a um
representante do Morgan Stanley, revelou que, sim, ainda há gordura para
cortar em pessoal, se necessário:
— Ainda temos espaço para mais self-service.
Entrega de aviões será menor
Este ano, a empresa dispensou cerca de mil funcionários da Webjet, comprada pela Gol no ano passado.
Outra
medida de ajuste ao cenário econômico é mudança na agenda de entrega de
aviões. Se este ano a Gol vai receber 16 aeronaves, em 2014 serão
apenas nove, em vez das 16 previstas.
— Estamos mais conservadores
— disse o executivo, que não prevê emissão de dívida para captar
recursos no Brasil ou no exterior. — Vamos ficar do tamanho certo para
sermos lucrativos.
Kakinoff também adiantou que, apesar do corte
nos voos domésticos, deve anunciar até o fim do ano um ou dois novos
destinos internacionais, com escala em Santo Domingo:
— É parte da
estratégia para aumentar a receita em moeda estrangeira de 8% para 17%
em três anos. No rol de possibilidades estão Boston, Los Angeles, as
ilhas caribenhas e a Cidade do México.
‘Acabou a lua de mel com o Brasil’
Sem
citar nomes, revelou estar em negociação com três companhias europeias
para uma sociedade nos moldes da que já tem com a americana Delta, dona
de 3% do capital da Gol. A alta do dólar, de acordo com Kakinoff, deve
custar R$ 900 milhões às empresas aéreas brasileiras este ano, se a
moeda ficar na casa dos R$ 2,25. Na Gol, 55% dos custos operacionais são
atrelados ao dólar — 43% deles são relativos a combustível de aviação,
que, na média internacional, corresponde a 33% dos custos das empresas.
Inquirido sobre por que o mercado não respondeu às mudanças na empresa, Edmar Lopes disse que é hora de esperar:
— Acabou a lua-de-mel com o Brasil. Precisamos ter calma e compromisso com a nossa estratégia.
Quanto
às manifestações no país, Kakinoff disse — após explicar a crise como
um movimento de novos consumidores de serviços públicos brigando por
eles — que a demanda por passagens não foi afetada.
— O inverno foi mais forte do que o esperado. Mas não vimos movimento negativo por causa das manifestações.
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