terça-feira, 25 de junho de 2013

GOL CORTARÁ 200 VÔOS SEMANAIS A PARTIR DE AGOSTO

O GLOBO


As manifestações que sacodem o Brasil deram o tom do Gol Day ontem, em Nova York. Os investidores de Wall Street que encheram um salão da New York Stock Exchange (Nyse) para o encontro anual com o comando da companhia aérea demonstraram mais preocupação com o clima do país e seus possíveis impactos no setor do que especificamente com os números da empresa, cujas ações acumulam queda de quase 50% no ano. Paulo Kakinoff, diretor-presidente da Gol, e seu diretor executivo financeiro e de Relações com Investidores, Edmar Lopes, reconheceram que o ano é de desafios, mas anunciaram uma estratégia para se ajustar à valorização do dólar — entre outras medidas, cortando 200 voos semanais em rotas domésticas, o equivalente a 9% da oferta atual da empresa, a partir de agosto.

— Muitos voos são deficitários, então, cortando alguns destes, eu mantenho a margem operacional (entre 1% e 3%), por mais paradoxal que isso possa parecer. Os voos que estamos cortando são aqueles economicamente não interessantes. Também trabalhamos num programa de eficiência de combustível junto com a Boeing, uma economia de 6% por voo, e não repusemos o turnover que houve nos aeroportos, reduzindo o número de empregados — disse Kakinoff ao GLOBO após o evento.

Apesar do anúncio, as ações preferenciais (PN, sem voto) da Gol fecharam ontem em baixa de 7,55%, a R$ 6,73. Desde o fim do ano passado, o valor de mercado da aérea encolheu em R$ 1,7 bilhão, para R$ 1,8 bilhão.

Durante a reunião, o executivo anunciou ainda que já reduziu em 20% o número de funcionários, investindo em check-in remoto e em estações de autoatendimento nos aeroportos. E, em resposta a um representante do Morgan Stanley, revelou que, sim, ainda há gordura para cortar em pessoal, se necessário:
— Ainda temos espaço para mais self-service.

Entrega de aviões será menor

Este ano, a empresa dispensou cerca de mil funcionários da Webjet, comprada pela Gol no ano passado.

Outra medida de ajuste ao cenário econômico é mudança na agenda de entrega de aviões. Se este ano a Gol vai receber 16 aeronaves, em 2014 serão apenas nove, em vez das 16 previstas.

— Estamos mais conservadores — disse o executivo, que não prevê emissão de dívida para captar recursos no Brasil ou no exterior. — Vamos ficar do tamanho certo para sermos lucrativos.

Kakinoff também adiantou que, apesar do corte nos voos domésticos, deve anunciar até o fim do ano um ou dois novos destinos internacionais, com escala em Santo Domingo:

— É parte da estratégia para aumentar a receita em moeda estrangeira de 8% para 17% em três anos. No rol de possibilidades estão Boston, Los Angeles, as ilhas caribenhas e a Cidade do México.

‘Acabou a lua de mel com o Brasil’

Sem citar nomes, revelou estar em negociação com três companhias europeias para uma sociedade nos moldes da que já tem com a americana Delta, dona de 3% do capital da Gol. A alta do dólar, de acordo com Kakinoff, deve custar R$ 900 milhões às empresas aéreas brasileiras este ano, se a moeda ficar na casa dos R$ 2,25. Na Gol, 55% dos custos operacionais são atrelados ao dólar — 43% deles são relativos a combustível de aviação, que, na média internacional, corresponde a 33% dos custos das empresas.

Inquirido sobre por que o mercado não respondeu às mudanças na empresa, Edmar Lopes disse que é hora de esperar:

— Acabou a lua-de-mel com o Brasil. Precisamos ter calma e compromisso com a nossa estratégia.

Quanto às manifestações no país, Kakinoff disse — após explicar a crise como um movimento de novos consumidores de serviços públicos brigando por eles — que a demanda por passagens não foi afetada.

— O inverno foi mais forte do que o esperado. Mas não vimos movimento negativo por causa das manifestações.

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