A polícia pernambucana confirmou, nesta segunda-feira, que abriu inquérito para investigar o caso do suposto furto de que teria sido vítima a seleção da Espanha quando se hospedou no Recife na semana passada. O crime foi denunciado inicialmente pelo jornal espanhol "El Mundo Deportivo" - que publicou no último dia 20 que um grupo de jogadores teria sido furtado no Golden Tulip Recife Palace - onde a Fúria ficou hospedada para a estreia na Copa das Confederações. O caso se tornou estranho quando o chefe de segurança da delegação espanhola, Raul Jimenez, e o gerente de relacionamento do hotel, Eduardo Barbosa, desmentiram o furto, confirmado pela Fifa horas depois.
De acordo com o delegado, ainda é muito cedo para afirmar o que realmente aconteceu no Hotel Golden Tulip Palace Recife. No entanto, o GLOBOESPORTE.COM ouviu funcionários, seguranças do hotel, voluntários da Fifa e alguns policiais (sendo um deles ligado à cúpula da polícia pernambucana) e descobriu uma história até comum em delegações de futebol. Uma história com sexo, mentiras e até um videoteipe.
Na noite do domingo, dia 16, após a vitória sobre o Uruguai por 2 a 1, uma banda de pagode foi contratada para animar uma festa da delegação espanhola no hotel. Além de cerveja, caipirinha e música, o evento contou com a presença de mulheres. No início, a festa não fugia do normal: brincadeiras, comilança e bebedeira.
Mas quando a banda de pagode Só Prazer parou de tocar, por volta de 1h da madrugada, um grupo de cinco moças seguiu para a área de aposentos com cinco atletas e um membro da comissão técnica. Nos quartos, segundo dois funcionários, o grupo teria começado uma disputa de strip-poker (jogo de cartas onde quem perde uma rodada tira uma peça de roupa). O clima teria esquentado com alguns atletas e moças seguindo para aposentos individuais. Quando, na manhã seguinte, as moças foram embora, membros da delegação deram falta de aproximadamente mil euros.
- Eles fizeram uma festa e subiram com algumas meninas para os quartos. Sabemos que isso aconteceu, mas não podemos falar muita coisa. Se teve roubo, foi ali. Certamente todo mundo vai negar e vai sobrar para a gente – relatou um voluntário, que pediu para não ser identificado.
Apesar do sumiço do dinheiro, os jogadores sabiam que reclamar publicamente do acontecido não seria inteligente. Mas, quando um membro da delegação vazou a história do "furto" para o "El Mundo Deportivo", o hotel ficou na berlinda. Por conta disso, o estabelecimento convocou todos os funcionários para uma tensa reunião - repleta de ameaças e cobranças. Nenhum funcionário assumiu o crime. Ao analisar as imagens do sistema de segurança, um dos responsáveis pelo hotel teve a certeza de que os espanhóis não estavam contando a história inteira.
- Conversaram com todo mundo e ninguém tinha roubado. Até porque são muitos seguranças. Aí viram que meninas que eles chamaram para a festa entraram nos quartos. E começaram a achar que o roubo foi lá – disse um dos funcionários.
Uma funcionária que trabalha no hotel, que também pediu para não ser identificada, confirmou a existência da festa e do desafio do strip-poker.
- O que a gente ficou sabendo foi que eles levaram algumas meninas para festa. Aí, jogaram baralho, e nesse jogo eles apostaram dinheiro e até as roupas. Foi isso que todo mundo ficou falando aqui.
Com as imagens na mão, o hotel exigiu que a Fúria se posicionasse. Um integrante da delegação espanhola, que já estava no Rio de Janeiro para o jogo contra o Taiti (que ocorreu na quinta, dia 20) voltou ao Recife para ver as imagens gravadas pelo circuito interno. Com a confirmação da presença das moças nos aposentos, os dois lados selaram um armistício e optaram pelo duplo desmentido.
- Disseram para ninguém falar nada, pois seria pior para todo mundo. Que o hotel seria prejudicado e nós também – relatou uma funcionária sobre a reunião com os espanhóis.
De acordo com um dos seguranças do hotel, um dos integrantes da banda que participou da festa teria levado as mulheres para os jogadores. Ele explicou que, após o incidente, o hotel decidiu contratar outro grupo musical para recepcionar o Taiti, que também fez uma festa na beira da piscina no sábado, dia 22.
- A banda que tocou para o Taiti já era outra. É um funcionário do hotel que toca nela e a escolha já foi por causa da confusão que aconteceu por causa da outra banda. Eles que teriam colocado as meninas para dentro e articulado tudo. Quem pediu a entrada delas, se partiu da própria delegação da Espanha ou da banda, eu não sei. Sei que duas dormiram aqui.
Após negar a existência da investigação durante uma semana, a Secretaria de Defesa Social (SDS) decidiu confirmar que há um inquérito para apurar o que ocorreu no hotel. Porém, poucos detalhes foram repassados pela polícia, alegando que a investigação está apenas na sua fase inicial. Segundo o Diretor da Capital e Região Metropolitana da Polícia Civil, Luiz Andrei, o caso está sendo investigado pela Delegacia do Turismo.
- O inquérito foi aberto porque o fato (suposto furto) foi à tona. Quando isso acontece, é necessário abrir uma ocorrência. As imagens do dia foram vistas pelo Instituto Criminalista da Polícia Civil, mas ainda não chegaram de forma oficial para nós. Até o momento, nós ouvimos 27 pessoas que trabalhavam no local durante o ocorrido e foi expedida uma carta precatória para o Rio de Janeiro, para onde foi a delegação da Espanha, para saber detalhes sobre esse fato. Quanto foi furtado, quem estava envolvido. Mas isso caberá à Delegacia do Turista. Nesse tipo de delito, o depoimento da vitima é fundamental para que o caso seja solucionado.
(Foto: Elton de Castro) |
- As imagens estão sendo analisadas e, com base nelas, outras pessoas podem ser ouvidas. No entanto, nós não podemos falar sobre isso, até para não atrapalhar o andamento das investigações.
Apesar da confirmação da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, o Hotel Golden Tulip Recife Palace afirmou, por meio de uma nota divulgada por sua assessoria de imprensa, que tomou conhecimento sobre o incidente apenas pela imprensa. Ao diário "Sport", o chefe de comunicação da Real Federação Espanhola, Antonio Bustillo, negou a ocorrência da festa.
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