BBC Brasil
O consumo de cocaína dobrou no Brasil no prazo de seis anos, enquanto em
outras partes do mundo o uso dessa substância está caindo, afirma o
Relatório Mundial sobre Drogas 2013 do Escritório das Nações Unidas
sobre Drogas e Crimes (UNODC), divulgado na última quarta-feira.
Segundo
a agência da ONU, o consumo de cocaína no Brasil aumentou
"substancialmente" e atingiu 1,75% da população com idade entre 15 e 64
anos em 2011 - ante 0,7% da população em 2005.
Os dois principais
mercados para a cocaína, a América do Norte e a Europa, registraram uma
diminuição no consumo da droga entre 2010 e 2011, diz o relatório. A
redução é de 0,1 ponto percentual nessas regiões.
Na América do
Sul o uso de cocaína, que atinge 1,3% da população, também diminuiu ou
se manteve estável em muitos países, afirma a UNODC.
Mas no
Brasil "houve um aumento substancial que é óbvio o suficiente para
refletir-se na taxa de prevalência regional em 2011", afirma a ONU.
"Esse
crescimento no Brasil pode ser atribuído em parte ao aumento da
preferência pelo uso da cocaína especialmente por jovens de centros
urbanos, como também à maior disponibilidade da droga ligada ao aumento
do tráfico via os países do Cone Sul", disse à assessoria de imprensa da
UNODC à BBC Brasil.
Perigo dos "euforizantes"
O
relatório sobre drogas também revela que o número de Novas Substâncias
Psicoativas (NSP), vendidas legalmente como "euforizantes", aumentou em
mais de 50% em apenas dois anos e meio e se tornou um "problema
alarmante".
O total dessas Novas Substâncias Psicoativas (ou
Novos Produtos de Síntese) passou de 166 no final de 2009 para 251 em
meados de 2012, ultrapassando pela primeira vez o número de substâncias
sob controle internacional, que é de 234.
Essas novas "drogas de
síntese" ou "euforizantes legais", vendidos geralmente pela internet,
"estão se proliferando em um ritmo sem precedentes e criando desafios
jamais vistos em termos de saúde pública", diz a UNODC.
Segundo a
agência da ONU, países em quase todas as regiões do mundo, incluindo o
Brasil, identificaram o surgimento dessas novas substâncias.
"As
NSP também avançaram na América Latina, apesar de o consumo nessa região
ser inferior ao registrado na América do Norte ou na Europa", afirma o
relatório.
As NSP identificadas na América Latina incluem a
quetamina (anestésico para animais) e substâncias à base de plantas,
como a Salvia Divinorum (ou "erva divina", uma espécie de sálvia que
provoca efeitos alucinógenos, proibida no Brasil no ano passado).
Os
Estados Unidos são o país que reúne o maior número de NSP: 158 foram
identificadas no ano passado, mais do que o dobro do registrado na União
Europeia, onde o consumo se concentra na Grã-Bretanha, Polônia, França,
Alemanha e Espanha.
De acordo com a agência da ONU, as NSP,
vendidas livremente e que não sofreram testes de controle, "podem ser
muito mais perigosas do que as drogas tradicionais".
"Elas são
vendidos como euforizantes legais, termo que permite subentender que seu
consumo não é nocivo, mas a realidade é diferente", diz o estudo.
"Para
enganar as autoridades, os fornecedores recorrem a métodos de vendas e
publicidades agressivas e dão às substâncias nomes de produtos do
cotidiano relativamente inofensivos, como sais de banho, incensos de
plantas e miau-miau."
Para a UNODC, isso induz os jovens a pensar "que eles podem se divertir com poucos riscos".
"A
infinidade de novas substâncias psicoativas e a velocidade com a qual
elas têm surgido em todas as regiões do mundo são uma das tendências
mais marcantes nos mercados de drogas nos últimos cinco anos", diz o
relatório.
Remédios
Outro problema apontado pelo estudo é o
abuso de remédios com receita médica, geralmente associados com
substâncias ilegais, que "continua problemático".
"O uso indevido
de sedativos e tranquilizantes é particularmente preocupante,
considerando-se que mais de 60% dos países analisados no relatório
indicam que esses remédios fazem parte dos três tipos de substâncias
consumidas com maior frequência", afirma a UNODC.
O relatório ressalta ainda que, de maneira geral, o consumo de drogas no mundo se manteve estável em 2012.
"O aumento do número estimado de usuários é atribuído, em grande parte, ao crescimento da população mundial", diz o relatório.
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