Fonte: Jornal do Commercio
Ayrton Maciel
Em política, há uma máxima – nunca comprovada – que diz que “voto não
se transfere”, conclusão que, na prática, é o contraditório da velha,
comum e conservadora política nacional: a de distribuir e herdar votos.
A história demonstra que, em política, nada é absoluto e o resultado
não se repete: pode-se transferir votos em uma eleição, pode-se perder
tudo em outra. Se a sabedoria manda, segundo o provérbio, que quem for
coxo parta cedo, nos bastidores políticos os postulante de 2014 já
especulam, articulam-se e esperam pelos votos de dois ex-deputados
federais, que renunciaram ao mandato, e um terceiro que pode não
disputar a reeleição em razão da saúde frágil. Nos cochichos e
corredores da Assembleia Legislativa, as especulações e contas tentam
decifrar uma pergunta: para quais pretendentes irão os votos de 2010 de
Ana Arraes (PSB), Maurício Rands (ex-PT) e, talvez, Sérgio Guerra
(PSDB)?
Eleita pela Câmara Federal, em 2011, conselheira do Tribunal de
Contas da União (TCU), Ana Arraes, mãe do governador Eduardo Campos
(PSB), tem 387 mil votos represados, aguardando os herdeiros no PSB e
aliados, enquanto o magoado ex-petista Rands, que abandonou a política,
deixou 126 mil votos órfãos. Como são considerados “de opinião”, a
suposição é de que a maioria não receberá influência do PT. Quanto ao
presidente nacional tucano, Sérgio Guerra, seus 167 mil votos poderão
inflar o número de candidatos a deputado federal pelo PSDB. Na Rádio
Corredor, a emissora virtual dos bastidores da Assembleia, a aposta é
que a eleição de 2014 para a Câmara deve ser ‘cabeça a cabeça’, devido à
quantidade de candidatos com estrutura. Sendo assim, herdar votos pode
ser o diferencial, no final, para a eleição de alguns.
Sem herdeiro político natural, o entendimento dos bastidores é que
os votos de Ana Arraes estão sob o controle do filho Eduardo, como
capital eleitoral para as composições de 2014. “São 387 mil votos. É
muito voto. Voto da estrutura, de prefeitos e da liderança tradicional.
Está na mão de Eduardo”, especula um governista, que também está de
olho na Câmara Federal. No rol de favoritos a herdeiros estão o
deputado estadual João Fernando Coutinho e os secretários da Casa
Civil, Tadeu Alencar, e da Agricultura, Ranilson Ramos – caso não seja
indicado para o TCE –, os três socialistas. Cotados estão também a
ex-secretária estadual da Juventude e deputada, Raquel Lyra (PSB),
filha do vice-governador João Lyra Neto (PDT), e o prefeito reeleito de
Timbaúba, Marinaldo Rosendo (PSB). “Há especulações sobre Renata
Campos (primeira-dama), mas ela só será candidata se Eduardo for para o
Senado”, diz um parlamentar da oposição. “Renata não quer disputar
mandato, quer continuar como primeira-dama (do País)”, detalha outro da
base do governo.
Para os especuladores, pela votação tão grande, os votos de Ana
Arraes devem ser pulverizados. Com tanto capital, mesmo menos cotados
estão entrando na lista, como o presidente do Laboratório Farmacêutico
de Pernambuco (Lafepe), Luciano Vasquez, e até o secretário de Turismo
do Recife, Felipe Carreras. “Ela teve votos para eleger quatro
federais. Com tantos votos, deve auxiliar também quem tiver dificuldade
de se eleger, inclusive de outros partidos, como André de Paula
(ex-deputado, PSD). A chapa majoritária deve passar por uma composição e
Eduardo é muito pragmático”, analisa um neo-eduardista.
Fiel a Eduardo e filho de um histórico arraesista, João Fernando
Coutinho vai entrar como um dos favoritos para uma das 25 vagas de
Pernambuco na Câmara. Em 2010, teve 72 mil votos para a Assembleia, 40
mil dos quais em dobradinha com Ana Arraes para federal. “Os votos de
Ana, o PSB deve definir. O próprio governador, em não sendo candidato à
Presidência ou ao Senado, pode disputar. A herança de Ana vai depender
muito da definição do governador”, admite um socialista. “Os votos de
Ana pertencem a Eduardo. É ele quem vai definir (os herdeiros). Foram
votos trabalhados pelo Palácio”, revela enfático um aliado. “Metade dos
votos de Ana credita-se como uma homenagem (dos eleitores) à mãe do
governador. Eduardo tem, então, para dividir mesmo só 200 mil votos”,
minimiza outro aliado, que disputará a Câmara.
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