Blog da Folha
Em nova entrevista à Veja, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) não
poupou críticas ao PT e, claro, ao seu próprio partido. O peemedebista
acusou o PT de transformar a legenda aliada num satélite e, assim,
determinar os caminhos que o vice-presidente, Michel Temer, e seus
correligionários devem seguir. O parlamentar destacou a “legitimidade”
do desejo do prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio, de disputar o governo
de Pernambuco, no entanto, Jarbas condenou a aliança com os petistas
defendida pelo gestor. “A chance de eu subir num palanque com o PT é
zero”, disparou
O senador, na mesma entrevista, ainda assegurou que a sua aliança com
o governador Eduardo Campos (PSB), destacando que o reencontro não
precisou do chamado “toma lá, dá cá” para ser viabilizado.
Jarbas Vasconcelos também criticou o estágio do PSDB e como os
tucanos se preparam para mais uma eleição presidencial, com o senador
Aécio Neves. Conforme o parlamentar peemedebista, nas últimas três
disputas pelo Palácio do Planalto, o tucanato “se embaralhou”.
Confira, abaixo, trechos da entrevista:
A aliança com Eduardo Campos em 2014 é para valer? É
uma aliança definitiva, consolidada. Eu tinha que escolher, estava com
dois adversários em Pernambuco, o PT e o PSB. Não tinha sentido. Havia
uma reclamação de alguns membros do PMDB que se consideravam isolados e
numa posição de desconforto. Nós então resolvemos abrir uma conversa com
o Eduardo e essa conversa foi feita sem ‘toma lá dá cá’ e sem
compromisso para cargos e ocupação de espaço político nas chapas de
oposição. O PT estava muito mal na eleição para a prefeitura do Recife e
nós começamos a conversar nesta ocasião. Terminamos fazendo já ali, em
2012, uma aliança para a prefeitura e ganhamos no primeiro turno. A
aliança foi importante porque, além da participação política, a gente
tinha tempo de TV. E surgiu um entendimento que tem sido mantido e vai
prevalecer, eu acho, para a eleição de 2014.
Por que não uma parceria com o PSDB, como nos outros anos?
O PSDB se embaralhou, não conseguiu se resolver até pouco tempo atrás. O
partido não estava pacificado, com aquele problema de São Paulo e havia
uma ausência maior de entendimento entre Serra e Aécio. No meu caso,
sou dissidente do PMDB e votei duas vezes em Serra e uma em Alckmin. E
eu disse isso: se o PSDB não conseguiu se pacificar, ficava difícil
agregar pessoas de outro partido. Foi essa uma das causas que nos
levaram a uma opção pela candidatura de Eduardo: a demora do PSDB. Mas
eu acho o Aécio um bom quadro, voluntarioso, que pode agregar e crescer.
O senhor vai buscar a reeleição ao Senado em 2014?
Isso não está definido ainda na minha cabeça. Se eu disputar, disputo a
reeleição. Já fui prefeito de Recife duas vezes, governador do estado
duas vezes, e não pretendo voltar de forma alguma para cargo do
Executivo. A política está muito ruim no país, é uma coisa generalizada.
E, como ainda tenho um ano e meio de mandato, só vou pensar nisso no
começo de 2014.
Só haverá uma vaga em disputa em 2014. O senhor não corre o risco de ficar sem espaço? Tenho a impressão de que não é por aí. Acho que, se eu manifestar essa vontade, a gente [com o PSB] faz uma composição.
E para o governo? O prefeito de Petrolina, Júlio
Lóssio, quer ser candidato pelo PMDB. O prefeito aspira, o que eu
considero legítimo. Petrolina é uma cidade grande, importante, mas ele
quer uma aliança com o PT. A chance de eu subir num palanque com o PT é
zero. É muito difícil eu progredir num entendimento dessa natureza.
Essa terceira via aberta por Eduardo Campos, com o eventual
apoio do novo MD e dissidentes como o senhor, vai ter força depois de
2014? Acho que tem que crescer mais. O PSB, mais dissidentes e o
MD não são suficientes. É preciso ver se conseguimos o PDT, por
exemplo, ou o PTB. Isso aí depende muito do ânimo do candidato, ele
precisa de tempo de TV e esses dois partidos têm. Acho que isso ele está
fazendo nos bastidores.
Num eventual segundo turno entre Dilma e Aécio, o senhor e Eduardo Campos iriam um para cada lado?
Tranquilamente. Se for Aécio ou Marina no segundo turno, com o Eduardo
perdendo, eu voto em qualquer um dos dois com entusiasmo.
O senhor acredita que esse novo polo de poder no campo da esquerda pode significar uma superação do modelo do PT?
Acho que as chances com Eduardo Campos crescem exatamente por isso. É
quase impossível o presidente Lula criar a imagem de que a candidatura
de Eduardo é de direita. Eduardo pertence à base, votou com Lula duas
vezes, votou com Dilma, é dissidente. O governo é forte, não é à toa que
tem essas pesquisas de opinião mostrando isso. O estado brasileiro está
muito instrumentalizado. A força deles advém disso, dessa ocupação
indevida de um espaço enorme. Mas acho que o Eduardo tem amplas
condições de crescer. É uma pessoa ousada, governa um estado importante
do Brasil e está com muita vontade de ser candidato.
Faltam bandeiras ideológicas aos políticos? O caso
de Guilherme Afif Domingos, que foi do DEM a um ministério no governo
petista em dois anos, mostra isso? Eu acho que esse negócio do Afif é um
exemplo, uma coisa patente do quadro de degradação política que a gente
vive. Lula formou uma grande aliança fisiológica que resultou no
mensalão e em outros problemas. É uma política do ‘toma lá dá cá’, que
se presta a partidos pequenos que são verdadeiras legendas de aluguel.
Se fosse um período de normalidade e o PT não estivesse enraizado há dez
anos no poder, fazendo o que quer, ninguém teria coragem de fazer o que
Lula e Dilma fazem: botar o vice-governador do São Paulo, o maior
estado da federação, para ocupar o 39º ministério do governo. Ninguém
tem condições de criar mais de trinta ministérios. Ou de fazer o que a
Dilma faz: usar a televisão, o dinheiro público para ser candidata à
reeleição. A gente vê isso, o Tribunal Superior Eleitoral vê isso. E não
se toma providência. Ela já foi beneficiada quando foi candidata a
presidente. Lula lançou a candidatura e levava a Dilma para todo o
canto, fora do período eleitoral.
O governo usa a máquina, os aliados aceitam o jogo e o eleitor os premia com o voto. Como quebrar essa cadeia?
Isso se resolve lutando. O fato de o PT estar há dez anos com a
preferência popular lá em cima, a gente tem que entender: ele faz o que
ninguém iria fazer. Eles instrumentalizaram o estado brasileiro; o
estado é todo petista. O Brasil hoje é um país profundamente medíocre,
uma mediocridade generalizada, não é feito um debate sério, não se
discutem as coisas mais sérias do país. Ao PT e à presidente Dilma não
interessa nada disso, só interessa a picuinha eleitoral. Uma mulher que
diz que no governo precisa se comportar com seriedade – o que ela não
faz – mas na eleição se faz o diabo… Você não faz o diabo em lugar
nenhum do mundo, nem dentro nem fora do governo. Eu fui prefeito e
governador, e nunca me passou pela cabeça fazer o diabo. Eles têm
índices altos de popularidade, mas existe essa ocupação enorme de
espaços, a publicidade, o uso indevido de instrumentos pelo governo. A
gente tem que lutar contra isso. Se for cruzar os braços, se omitir ou
se embaraçar, a gente não vai para lugar nenhum.
O senhor reconhece que o PMDB faz parte desse sistema fisiológico que favorece o PT. É por ingenuidade ou mero interesse?
Primeiro, o partido está nessa há muito tempo. Não é de hoje. O PMDB
fez isso um pouco com Fernando Henrique e mais ainda com Lula. O
problema hoje não é nem só o fisiologismo do PMDB. A coisa é que ele
está se transformando num satélite do PT. O PT determina o que o PMDB
tem que fazer e o PMDB se subordina a isso. É uma coisa muito
complicada, porque se esperava uma postura mais impetuosa e independente
do partido, mas o PMDB hoje é manobrado. Está se dizendo abertamente
dentro do Congresso que quem vai ser o homem forte das alianças do PMDB e
do PT é o Aloizio Mercadante!
Em entrevista ao site de VEJA, o presidente do PMDB, Valdir
Raupp, disse que o PMDB hoje é de esquerda porque o PT é de esquerda. É
um sinal daquilo que o senhor disse sobre a falta de independência?
É uma frase profundamente infeliz. Não tem nada disso. O partido é de
centro, sempre foi, com uma direita muito forte dentro dele.
Falta um partido de direita no Brasil? Eu acho que
faz muita falta. A gente sente falta de um partido assumidamente de
direita. Quando a gente teve isso no Brasil, as coisas ficavam mais
claras. Era importante que houvesse um partido que assumisse as posições
conservadoras, como a Margareth Thatcher na Inglaterra, ou como o
antigo PFL fez durante um período. Esse debate é interessante. Não
precisa ser de esquerda. Teríamos conservadores e progressistas: pessoas
que querem avançar e pessoas que não querem, ou que querem mas às vezes
impondo condições, restrições, adequações. Eu acho que essa
mediocridade que a gente vive no país é muito por conta disso, por conta
do PT, que domina o país há mais de uma década. Não é brincadeira um
país ser dominado mais de dez anos com esse expediente.
O debate político acabou? Não tem. Qual é o debate
que existe hoje na Câmara, ou mesmo no Senado, onde só existem 81
senadores e é mais fácil de discutir? Não tem. As pessoas estão mais
interessadas em fazer negócios, no ‘toma lá dá cá’, nos cargos. Não
estou dizendo todos, mas a maioria.
O senhor é do PMDB histórico. Acha que Tancredo e Ulysses compartilhariam dessa visão?
Sim, porque eram figuras respeitáveis, que conviviam com figuras à
esquerda e à direita, com pessoas que contestavam, que incentivavam, que
adulavam. Eram estadistas. Doutor Ulysses, Tancredo, Franco Montoro
eram pessoas que tinham visão, sentimento de estado, espírito público.
Hoje a Dilma, por exemplo, nem tem espírito público e muito menos
formação de estadista ou visão de país.
O PT tem índole autoritária ou essa prática patrimonialista surgiu com a eleição de Lula?
O PT sempre foi dono da verdade, antes de chegar ao poder. Lula foi
eleito em cima de duas teclas: uma era a da ética e a outra eram as
mudanças. Eleito presidente, ele não fez mudanças e a ética foi embora. O
partido não inventou a corrupção. Seria um erro grave dizer que o país
passou a ser corrupto quando Lula e Dilma chegaram ao poder. Mas Lula
foi conivente. O PT era tido como um partido sério, que só ele era bom,
só ele tinha coração, só ele era ético e os outros eram enganadores. De
repente chegou ao poder e ficou igual. Qual é a diferença, hoje, do PT
para o PMDB e esses outros partidos? Zero. O Brasil teve avanços na área
social, não tem como deixar de se reconhecer isso. Mas o quê mais? A
nossa política externa é simplesmente ridícula. Ainda hoje, o país está
convivendo com uma figura como esse Nicolás Maduro, que nem legitimidade
tem dentro do país dele e veio buscá-la aqui.
Por que Eduardo Campos pode resolver esses problemas, se ele é da base aliada?
Porque ele está com uma proposta de avançar. Ele tem uma coisa que
outros candidatos na nossa área têm dificuldade de fazer: reconhecer que
o governo avançou. Ele é peremptório, diz: ‘O país avançou, eu
participei disso, mas poderia ter avançado muito mais’. E aí está certo.
Eu acho que você não vai resolver as questões desse país com a Bolsa
Família. É importante como política compensatória, mas mais importante é
a educação, é investir na qualificação do trabalhador. O que o governo
tem feito nessa área? A educação está um desastre. Eu acho que, quando
Eduardo Campos diz que o país avançou e pode avançar muito mais, acho
que ele está falando também da política externa do Brasil – deixar essa
coisa de estar agarrado com ditadores ou presidentes de formação
atrasada, como a Argentina, Venezuela, Equador. Isso não leva o país a
lugar nenhum. Vê as coisas internas: a saúde está desmantelada, a
educação é completamente atrasada. Quem é que está discutindo o Brasil
de hoje e o de amanhã? Ninguém. Como esse Brasil pode dar um salto
qualitativo sem ser um voo de galinha? Um país convivendo com
inflamação, todos os fundamentos da economia desajustados… Na
Presidência, uma mulher que acha que é economista, não sabe o que é
economia, mas quer impor as coisas pelo grito, pela intimidação. Para
onde é que a gente vai nesse campo? É muito difícil.
O senhor tem esperança de que políticos mais jovens corrijam esse modelo?
Eu acho que é uma tentativa que a gente está fazendo. Tem que fazer. É
importante se agarrar com unhas e dentes a uma opção como a de Eduardo
Campos, Marina Silva ou Aécio Neves. Eu escolhi Eduardo, não porque seja
melhor que os outros, mas ele vem da base, e era importante que a gente
arrancasse uma pessoa da base para ser candidato. Ele tem uma visão de
futuro, de que é preciso modernizar a administração, de que o Brasil não
pode avançar com um povo maltratado na saúde e atrasado na educação. O
país não tem infraestrutura, como é que vai dar um salto qualitativo sem
portos, aeroportos, estradas e ferrovias?. Como é que a gente vai
avançar? Se o país estivesse crescendo no ritmo como os outros Brics, a
gente tinha quebrado, tinha tido apagões. Mas, como o Brasil está tendo
um crescimento ridículo, essas coisas não aparecem.
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